Bem-Vindo

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Tranformando-te

Eu...
Bom, já estou falando demais. Boa noite!

Pendurada, nos espaços que deixava, tão precisamente...

Me lembra depois de te contar essa estória...

A história ficou sem fim, sem nem começo.

A mais bela poesia...

Quais páginas de fato buscava? Deixou-as em branco.

Eu não quero que você vá.

Mas se ficar jamais será livre...

Isso tudo já está muito estranho.

Bota o café na mesa, sorri (vertigem). A xícara subitamente exerce efeito gravitacional sobre os olhos...

Mas... que bom que ligou.

Pingando de chuva, sorriso misturado com purpurina.

Boa sorte! Quem sabe a gente se esbarra por lá.

Atravessar-te-ia.

(Eu não quero que você fique.)


quarta-feira, 10 de julho de 2013

Olhares


Des Regards

Trocaram um olhar. O que mais trocaram ali? Esperanças, vergonha, incertezas? Devia ser algo de bom, pois apesar de ter abaixado a cabeça, ele sorria. Ela queria sustentar seu olhar. Levante-se... levante-se... parecia que apenas com a força do pensamento aqueles olhos se ergueriam, fixariam de novo aquele par de espelhos cor de mel que ela continha. Pensou vê-lo corar. Ou seria apenas a luz de seus olhos refletindo em sua pele branca? Mesmo de longe sentia algo que os conectava. Luz? Reflexo vermelho? Reflexo cor de mel? Levante-se...

Sabia o que encontrara. Pelo menos naquele momento... aquele sentimento de felicidade tão sutil... Queria sustentar seu olhar... Levantou-se, enfim. Um sorriso. Um sorriso refletido. Assim, pronto. E ali estava a felicidade. Encerrada em alguns minutos, iniciada por nada, morta pelo inevitável final. Final do sorriso, final do sinal. Cruzaram-se, não da maneira como esperava.  E o vento fresco, com cheiro de sol, levou seu precioso olhar... seu encontro foi apenas uma interseção em dois caminhos bem diferentes. Não importava. Vivera mais um momento de alegria. Sempre ficava com vontade de voar, pular no mar, deitar numa cama bem macia, depois desses momentos. Vontades controversas ao que sentia. Se sentia mais pesada, ou seria mais complexa? Algo agregara-se a sua existência. Mais uma pena, mais uma semente aérea. “Qual o peso de um olhar?” Se perguntou. “Bom, eu peso 67 quilos... devo ter muitos.” E com essa inocência de menina, brincando com os cálculos de seu peso e de seu conteúdo, saiu sorrindo.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Jardins europeus



"O mundo é todo seu pra recriar.
Brinca com ele, menina.
Brinca e sê feliz."  R.

E brinquei. Pulei no verde, deixei o sol me banhar.
Senti a brisa que também movia os moinhos.
Passei as mãos pelos meus cabelos cheios de nós,
sem me importar com eles.

Sentei e esperei o tempo. Ele me abraçava, 
devagar. Quis continuar naquele jardim para sempre...
Cada flor tão significativa, cada cor um sentimento.
Azul, paz, púrpura, beleza, vermelho, felicidade, pura e simples.

Estava a descobrir o mundo, 
um que estava separado de mim por um oceano
(ou seria apenas por uma noite?)
E quão mágico ele podia ser!
Ser. Esse ser é meu, meu para moldar,
meu para pintar, mesmo com minha palheta deficiente.

Agora sou prisioneira desta tela.
Estou com um parasol, em uma ponte japonesa,
cercada por nenúfares. É assim que pintei minha lembrança.
Me disseram uma vez, que todos somos prisioneiros
de sentimentos que temos de vez em quando...

"It's much more than a stone, metal or golden cage. It's the ultimate prison.
This life allows us to go the farthest distances without even noticing any energy expenditure - we dream, sleeping or awaken.
And what a sweet prison this is. Just the one I wish I'd never ever leave, for the eternity.''  R.

O ar dourado que hora me rodeava, 
hoje carrega partículas negras de poeira.
Estou deitada, novamente, do outro lado da tela.
Minhas memórias ainda estão vivas, 
posso visitá-las, por enquanto, nas noites quentes
que me esperam, com estrelas cintilantes, 
guardando promessas oníricas.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Coincidências



“Me deixei levar pelo tempo, caminhei sem olhar por onde andava e por coincidência esbarrei em você. Continuei a caminhar, mas dessa vez te levei comigo.”  Anônimo. 

Entrou apressadamente. Não corria, mas mesmo fazendo um esforço para não respirar pela boca, o som de sua respiração pesada a acompanhava. Ao passar pela porta, ficou grata pelo ar-condicionado que a recebeu. Sua amiga Emília a esperava impacientemente. Sua aula havia terminado há mais de meia hora, e esperava somente ela para irem comprar os ingressos de um show. A avistou, a alguns metros afastada, batendo o pé nervosamente no chão. Fixou-a e foi ao seu encontro, não viu quando aquela forma se materializou diante de si.
-Desculpe,  Falou automaticamente.
-Não, eu que peço desculpas, não olhava por onde andava.  Respondeu o rapaz, já voltando a apressar o passo.
Seus olhos desvencilharam-se. Emília se aproximou.
-Vamos?
-Sim sim, desculpe. 

Foi um dia cansativo, não tinha dormido à noite por causa do show que vira, e passou o dia vagando. Biblioteca, sala, cafeteria, sala, rua. Andava de cabeça baixa, com um livro nos braços, pendendo perigosamente. Sentou-se num banco de pedra que ficava encostado no muro de alguma construção qualquer. Estava nos arredores da faculdade, árvores a brindavam com sombra e ar fresco, sentiu vontade de ler. Lia algum romance, um dos muitos que a prendiam em suas tardes tediosas. Saboreava as últimas frases de um capítulo quando sobressaltou-se. Seu coração estava acelerado, posição de alerta. O que foi isso? Alguém jogara alguma coisa do outro lado  do muro, que o acertou exatamente no ponto em que ela se encontrava. Pelo impacto, imaginou que fosse uma bola. Fechou o livro, levantou-se.

Já passava das três quando chegou na casa de uma colega, ela e Emília já a esperavam para fazer um trabalho. Ainda tinha seus fones no ouvido quando foi convidada para sentar. Assim que os tirou, teve a impressão de continuar ouvindo a música. Mas o que? Estava ficando louca ou ligeiramente surda, fazendo com que aquela melodia ainda ecoasse em labirínticos caminhos? Deve ter franzido o cenho enquanto se concentrava nos acordes que ainda tocavam, pois Emília reparou.
-É o vizinho. Ele toca guitarra, deve estar aprendendo essa música, porque a toca desde que eu estou aqui. Não é?  Olhou de soslaio pra sua colega.
-Sim, é o dia inteiro...
-Ah... pensei que não tivesse desligado meu ipod.  Tentou justificar sua surpresa.
Começaram o trabalho.

Deu o sinal do ônibus, equilibrava um caderno com uma mão, enquanto a outra se ocupava de sustentar seu peso enquanto este era jogado para frente. Freios. Viu, enquanto se aproximava de sua parada, um garoto correndo. Ele fez um sinal em sua direção, ao qual o motorista respondeu abrindo a porta de trás. Já saltava o último degrau quando olhou para sua direita e viu aquela forma subindo em um pulo. Pensou já tê-la visto antes... Parada, ali na calçada, olhava para o ônibus que acabara de a deixar pra trás. Janelas corriam e nelas procurava alguma coisa ou alguém. Desistiu, devia ter pensado que viu algum conhecido.

Estava cansada... seus olhos brilhavam, vermelhos. Além do final do semestre que arrancava-lhe suas noites, sentia uma exaustão que não era física, mas espiritual. Sentia-se velha, com já muitos anos vividos, e uma sabedoria que não os acompanhava. Subia agora as escadas do metrô. Corredor, escada, direita. Foi com esses pensamentos em mente que esbarrou naquele (des)conhecido. Pareceu perde-los por instantes, visto que agora seu cérebro se ocupava de outras coisas. Onde? Quando? 
-Desculpe,  Ele falou automaticamente.
-Não, eu que peço desculpas, não olhava por onde andava.  Respondeu-lhe, ainda o encarando.
Seus olhares não se desvencilharam dessa vez. Ficaram ali parados, nessa eternidade que um segundo pode conter. Tinha visto uma vez em um filme duas pessoas anônimas esbarrarem assim. Começaram a conversar, para saírem do modo pré-programado em que viviam. Não queriam mais ser "formigas" na vida dos outros, que, ao bater as antenas, desviam a cabeça e prosseguem com seus caminhos.
-Já te vi antes, não?      Seus pensamentos são cortados.
-Creio que sim...
Seus olhos sorriram, fitando-se.

Um. O apressado, o jogador de bola, o guitarrista, o passageiro de ônibus, o cara do metrô. Dois. 

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Binah-Tiphareth



Me encontro no caminho da dúvida...
aquele extenuante esforço analítico
meu espírito  é tal como espada, rasgando o véu de Tiphareth
mostrando-me os pontos mal acabados, 
lados ainda em escuridão.

Uma centelha de vaidade me inebria...
Sei bordar. Irradio luz.
Mas qual seria a consequência de tal luxuriosa interferência?
Perder-se-ia o caráter inicial,
moldar-se-ia em pensamentos-programações
E no final, que restaria?
Uma casca, onde outrora se metamorfoziava em seu próprio tempo um lindo ser
que hoje não passa de um verme alado?

Meu temperamento justo me impede de fazê-lo.

 Fico a admirar, de longe, esse véu imperfeito.
Indecisão que paralisa, ânsia que corrói.
Olhos ainda puros me fixam...
Aroma doce e verde. Absinto.

sábado, 2 de junho de 2012

Metade



"Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que o homem que eu amo seja pra sempre amado
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A uma mulher inundada de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também." Oswaldo Montenegro

Achei esse poema depois de ter escrito o texto abaixo, enquanto procurava imagens para ilustrar o post... Como coube perfeitamente com o que escrevi, inclusive tem o mesmo título, resolvi botar ai em cima.

Metade
Ela queria poder abrir seu peito, e tirar aqu
ela angústia que a corroia. Angústia... talvez a palavra fosse alguma outra, derivada de “dor”. Ela queria poder abrir seu peito, arrancar-lhe o coração e guardá-lo numa caixinha. Talvez assim ele ficasse bem... Ela queria ao menos ter mudado algo, mas sentia que sua nota era sempre a mesma. Estavam regredindo, talvez, em marcha ré menor. Ela queria, ela queria, ela queria... talvez esse fosse o problema... ela queria tantas coisas, invernos agasalhados e com chocolate quente, outonos com estórias lidas num banco qualquer de parque, verões com ondas de espuma batendo nos seus quatro pés, tantas primaveras para ver o florescer das Nenúfares... Depois de tantos meses, as notas desfalesciam como pétalas brancas, murchas, ao chão. Ouvia agora a chuva. Ah! E como ela enchia seu âmago! Ia, rastejando, pingando, formando cavernosos vazios, e os arranjos outrora tocados ecoavam fracos, ficando presos em um ou outro cantos de sua tortuosa mente. Refletia agora (porém não com a mesma luz de antigamente) que nunca tentara gritar em uma gruta. Para onde iam as palavras? Ecoavam até se perderem no vazio, ou permaneciam para sempre trancafiadas em um labirinto de sombras? Não sabia a resposta, mas, a julgar pela persistência daquelas maravilhosas sinfonias em seu interior, acreditava que se perdiam dentre fileiras de negras estalactites e estalagmites, nunca abandonando por completo a gruta.

Ela queria poder pedir desculpas, acreditando que ficariam bem, que não o machucaria de novo. Ela queria poder treinar suas palavras, deixando apenas aquelas mais belas saírem. Ah! Como gostaria de trancar as outras... jogá-las sem piedade em um calabouço, esperando apodrecerem. Mas não o fazia. Por impossibilidade de sua própria personalidade. Criara suas palavras livres, e agora elas lhe fugiam. Retornavam, é verdade, mas sempre carregando um quê meio amargo ou meio ferroso, gosto de sangue. O que fazer? Como não conseguia se impedir de metralhar frases, talvez a solução fosse mover o alvo...

Ela queria saber o que Ele queria. Tinha medo de pensar nisso... tantas vezes já o perguntara, e tantas vezes já sofreu com seu silêncio. A cada sentença não pronunciada, uma pétala caía. Sentia-se, agora, um pedúnculo vazio, desnudado por uma tempestade em plena primavera. Não era a mesma, disso tinha consciência. Cresceu tanto... desde uma semente sem cuidados até desabrochar em uma flor branca. Agora jazia ali, uma flor sem pétalas, uma metade.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

No parque

Uma autora famosa, com certeza. Sorria, enquanto olhava sua obra. Não lembrava ao certo como aquela ideia capturou sua mente... quando viu já estava escrevendo. E que sensação maravilhosa... tão ímpar! Nunca sentira algo assim antes. Claro, escrever era seu hobby, e já tinha feito isso dezenas de vezes, sempre que uma mínima inspiração surgia. Lembrava-se uma vez de estar em um café dentro de uma grande livraria, quando aquele ambiente que misturava o silêncio com o cheiro do café com leite a deu uma ideia. Tímida, no início, mas acabou se desenvolvendo em um grande conto -na sua sempre humilde opinião-. Não tinha onde escrever, estava munida apenas de uma caneta preta, dentre tantas outras coisas inúteis da bolsa. Nenhum papel. Observou, a sua frente, um porta-guardanapos de madeira trançada. A ideia reclamou, mas não teve jeito: acabou moldando-a nos guardanapos mesmo. Só quando chegou em casa é que pôde, finalmente, dar um destino mais nobre à amiga: fez questão de digitá-la no seu laptop, enquanto comia uns chocolates.
  Nessa tarde não seria diferente. Mais uma vez viu-se obrigada a improvisar. Primeiro cogitou se a ideia realmente valeria a pena para dar-se a tanto trabalho, e foi nesse momento que lhe ocorreu outro pensamento: Meu Deus! Essa era a ideia! Sim sim... o que primeiro pensara foi apenas a porta para que algo novo pudesse entrar, para que cogitasse o segundo pensamento... ah! Gostou desse. Ria-se sozinha, saboreando-o. Teve o cuidado de pensar como o botaria em prática, cuidando dos pormenores. Teriam que ser novas, sim, novas e macias. Brancas, ou em tons creme, pensou. Sua caneta preta servia para o trabalho, pois era de nanquim, então garantia uma escrita suave. Finalmente, pôs-se ao trabalho.
  Não levara muito tempo, talvez a parte mais demorada tenha sido o desenvolvimento do plano. Mas a melhor parte... ah! Sobre esta não resta dúvidas: a sensação suave de escrever, a delicadeza que se impusera, o cuidado com que desenhou as letras, o perfume que estava no ar. Como seria maravilhoso se vendessem grandes folhas para se escrever assim! Essa aspiração era boba, quase infantil, mas não consegui deixar de desejá-la. Imaginem só! Grandes maços com folhas assim... suaves, macias. O ato da escrita seria algo angelical...
  Uma autora famosa, com certeza seria um dia. Sorria enquanto olhava sua obra. Talvez umas doze, não mais que isso. Estavam dispostas no banco do parque. Ela mesma estava sentada no chão, com algumas flores murchas em volta das suas pernas cruzadas. Tivera o cuidado de selecionar as doze flores mais novas que achou, procurando só entre as caídas. Tivera, então, a sensação única de escrever em pétalas de flores.

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